Olhares (Im)possíveis" é um
projeto de produção teórico/prática que desenvolve uma metodologia de
intervenção por meio de oficinas de experimentação audiovisual e cartografias
realizadas em escolas públicas, eventos e centros culturais de Minas Gerais.
Neste livro percorremos a implementação do projeto em 2017. Recorta-se a
experiência com crianças de 10 e 11 anos na Escola Municipal Professor Adhalmir
Santos Maia, no bairro Nossa Senhora do Carmo (Pocinho), na periferia de Ouro
Preto.
Nosso principal objetivo foi criar
e aplicar uma metodologia audiovisual para a escuta do indizível e do
testemunho, por meio de pesquisa-intervenção. A abordagem metodológica
qualitativa, inspirada no paradigma indiciário de Carlo Ginzburg (1989), busca
encontrar um "saber-vagalume" a partir dos indícios, seguindo pistas
de Didi-Huberman (2011). A experimentação do vídeo como dispositivo
processual para a escuta dos estudantes vai além da produção de um filme. A
linguagem audiovisual aqui é pretexto para o encontro, para a partilha, mas
também pré-texto para as conversações com os/as estudantes. Nesse sentido, a
ideia de dispositivo (Migliorin, 2016), como aquilo que coloca em crise a
articulação entre um comando fechado e ao mesmo tempo aberto à inventividade,
foi apropriada na articulação de três momentos que garantem a emergência das
imagens-sintoma produzidas pelos/as envolvidos/as. Por focar no processo e seus
possíveis laços, o ponto central de sucesso da prática é o espaço de partilha
do sensível que se cria com as crianças. A hipótese é que essa metodologia
resgata gestos de infâncias que podem ser perdidas.